quinta-feira, janeiro 25, 2007

Parte 01 - Capítulo 03 - Notícias chegam ao Intermédio

Uma gritaria desenfreada acordou Canopus, o Senhor do Intermédio, que dormia calmamente em sua imensa cama confortabilíssima, envolto pelos seus longos cabelos dourados. Atrás da porta do quarto, os seus empregados se debatiam para decidir quem iria contar a notícia ao Mestre.
-- Silêncio, desgraçados, silêncio! -- gritava o que estava mais próximo da porta, de costas para ela. Um carequinha magrelo chamado Brites. Os outros avançavam sobre ele, dizendo várias coisas ao mesmo tempo.
-- Vá logo contar ao Mestre! -- disse um dos empregados que tinha uma longa barba. Seu nome era Sevah -- Você enrola demais Brites! Vá logo senão eu vou!
--Calma, calma! Só estou preparando as palavras. -- disse Brites.
Enquanto isso, Canopus se aproximava da porta para abrí-la por dentro. Já pressentia a confusão que encontraria do lado de fora. "Com certeza deve ser mais uma das bobagens que eles supõem serem importantes!" pensava ele, com uma certa irritação. "Vou abrir. Vamos ver o que acontece aqui".
Canopus abriu a porta dupla com uma tremenda força que fez com que seus empregados do outro lado da porta caíssem um por cima do outro. Bagunça irritante.
-- Ora seus tolos miseráveis! -- bradou Canopus -- Como ousam perturbar meu sono? Perderam a noção do que pode lhes acontecer?
Todos ficaram em silêncio no mesmo segundo em que ele disse aquelas palavras. O carequinha, Brites, levantou-se do chão e, muito apreensivo, dirigiu a palavra ao Mestre.
-- Meu Mestre... desculpe-nos pelo incômodo, mas é que... veio até nós uma notícia de que, finalmente, alguém adentrou no Prelúdio de Sírius. Na verdade, foram duas pessoas.
Canopus não conseguia administrar a notícia de forma organizada em sua mente. Seu irmão, Sírius, havia esperado cerca de três séculos para encontrar aqueles que se encaixariam perfeitamente nos requisitos do Prelúdio, e parecia que agora, sem mais nem menos, ele os encontrara.
-- Você... você tem plena certeza do que está dizendo, empregado Brites? -- pergunto Canopus, meio encerto com relação ao que ouvira.
-- Sim, senhor, sim! Foi Athus, um dos principais subordinados de Sírius, quem me contou diretamente. Suponho, agora, que você entenda que eu não inventaria esse tipo de informação! -- disse Brites.
Canopus ficou em silêncio por um tempo. Estava pensando em que ação tomar. Seu coração de repente estava batendo mais rápido.
-- Brites!
-- Sim, Mestre?
-- Preciso que me faça um grande favor, do tipo extremamente importante. Será que seria capaz?

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Parte 01 - Capítulo 02 - Onde fica o banheiro?

Um produto líquido verde mal-cheiroso e grudento cubria a boca e os ouvidos de Henry quando ele voltou a si. Estava deitado na calçada de uma rua de uma grande cidade, onde chovia fraco, mas mesmo assim trovejava. Estava quase anoitecendo. Vários carros passavam devagar no meio do trânsito. Os prédios ao longe, davam uma "sensação de sonho". E, logo atrás dele, ficava a estação de trem, simples como qualquer outra, mas havia um toque mágico ali. O trem acabava de chegar.
-- Onde...? - perguntou-se. Como se fosse por reflexo, retirou rapidamente o líquido estranho dos ouvidos e da boca com as mãos, que ficaram extremamente grudentas. -- Droga! -- exclamou. Tentou esfregar as mãos nas roupas, mas isso acabou fazendo com que o grude na sua mão ficasse cheio de fiapos de roupa, o que dava uma sensação repulsiva e desagradável. -- Droga! Droga! -- gritou dessa vez. Finalmente, desistindo, foi até a estação de trem e sentou-se em um banco de madeira que havia por lá. Respirou fundo e observou ao redor. Onde ficaria o banheiro mais próximo? Quer dizer, a prioridade maior devia ser a de saber onde ele, Henry, estava e como havia ido parar ali naquele lugar, próximo a uma estação de trem que ele jamais vira antes. Porém, com as mãos grudentas e sujas, seria desagradável e desconfortável procurar a resposta para essas perguntas. Dessa forma, um banheiro era agora a primeira prioridade para que ele pudesse se sentir fisicamente confortável para procurar as respostas das perguntas importantes.
-- Onde fica o banheiro? -- perguntou ele à uma bela mulher que vendia as passagens de trem em um balcão.
-- Ali. Só ali. -- respondeu ela, apontando para o local.
-- Mas... mas então...!?
-- Os outros banheiros estão passando por uma detetização. Desculpe meu senhor, mas se quiser mesmo ir ao banheiro, terá que comprar uma passagem de trem. Ele já está chegando.
O único banheiro era um que havia no trem.
-- Siceramente -- disse Henry, exaltado -- como acha que segurarei a passagem com essas mãos?

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Parte 01 - Capítulo 01 - A Escuridão de Celina

Nota: Daqui para frente, a estória se dividirá e, a cada quatro capítulos, quatro personagens serão centrados. Por exemplo, no Capítulo 01, existirá um pequeno relato do que ocorre com Celina, enquanto o Capítulo 02 focará Henry e o 03 e o 04 focarão outros dois personagens. No Capítulo 5, o enfoque voltará a Celina e seguirá na mesma ordem de antes. O Capítulo 01 é curto, mas têm aspectos importantes.

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Quando Celina conseguiu abrir os olhos, pensou que ainda estavam fechados. Para qualquer direção que olhasse, só vislumbrava a escuridão. E então...
-- Meu Deus! Que sensação é essa?
Celina sentia que todas as suas memórias não faziam, de fato, parte dela. E, eis que, nesse mesmo momento, ouviu uma música começar a tocar. Tendo isso acontecido, Celina, pouco a pouco, foi se esquecendo que não podia ver e logo sua audição foi se expandido sem que ela percebesse. A música entrava em seus ouvidos numa harmonia inconfundível.
-- Eu... conheço essa música! -- exclamou Celina.
Na verdade ela provavelmente conheceria essa música como qualquer outra pessoa. Era a 5ª Sinfonia de Beethoven. Música de alta qualidade. E popularidade!

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Prólogo - Guardiões da Existência

Derrotado pelo cansaço, Henry largou o lápis na mesa, amassou a folha em que estava escrevendo e logo em seguida jogou-se na cama, ainda usando a roupa do trabalho. Começava a se sentir velho. Faltavam menos de três meses para o seu aniversário de 44 anos, porém, alguns diziam que ele aparentava ter uns anos a mais. E, um fato que era ainda mais provocante, era o de que ele nunca havia se casado. E oportunidades não lhe faltaram. O que faltou, ninguém sabia.
Henry se concentrou em dormir. Talvez, depois de um bom sono, alguma inspiração poderia surgir. Então, depois de alguns segundos, suas pálpebras começaram a pesar. Mais um instante e ele já estaria dormindo. Pobre homem. Havia se tornado um escravo do sono e da estranha preguiça. Seus cabelos brancos e seu rosto pálido, com a barba por fazer, demonstravam alguma perturbação no interior daquela mente que se aproximava da velhice. Um pequeno cansaço que sentia e já ia direto para a cama. No trabalho, ele lutava incessantemente contra os acessos de cansaço que o invadiam. Henry só não era relaixado, isso ele nunca fora, e por esta razão manteu-se no emprego.
Naquele sono diário, porém, ele sentiu toda aquela canseira e toda a preguiça se esvaírem pouco a pouco. Foram se esvaindo, até que não restasse mais nada que fosse desnecessário dentro dele. Alguma força escondida nele percebeu que aquela era a hora.
Henry acordou depois de dormir meia hora. Um impulso espetacularmente forte o fez calçar velozmente os sapatos, descer todas a escada do prédio em que morava, sair pelo portão e observar a rua pouco movimentada. Uma velha senhora passeava com seu cachorrinho na calçada do outro lado da rua. Algumas lojas abertas, sem ninguém além dos vendedores. À esquerda e acima, havia um parque não muito bonito, mas era um lugar tranquilo, nostálgico e gostoso de ficar. Henry nunca havia ido até lá, mas todos da vizinhança diziam a ele que era um bom lugar para se sentar e escrever. Era óbvio o que ele devia fazer. Subiu as escadas correndo, voltou ao quarto, pegou um caderno velho e um lápis, um guarda-chuva, pois o céu estava ficando estranhamente escuro, e um pequeno relógio de bolso, para se dar conta da hora de voltar. Não estava frio, então achou desnecessário levar seu casaco.
Mais uma vez, desceu as escadas correndo. Sentiu uma lágrima escorregar do seu olho esquerdo. Estava, incrivelmente, muito emocionado. Alguma coisa que estava presa no inconsciente dele eo fazia ficar costantemente cansado, agora havia se libertado, começando a ter um efeito contrário.
Eis que, por um momento ele parou.
-- O que... o que houve? -- ficou meio confuso. Sentou-se em um degrau da escada lentamente, com os olhos bem abertos como se esperasse que a resposta por aquilo estar acontecendo viesse ao encontro dele por conta própria. Logo, a emoção que havia sentido há alguns segundos atrás dissipou-se, e agora um profundo sentimento de fúria dominou o seu ser. Poderia ele, ser realmente feliz se desse atenção para a liberdade? "Vou arriscar então" pensou ele.
Correu feito louco pela rua. Quem olhava pensava que ele estava atrasado para alguma coisa. E, talvez, estivesse mesmo. O parque estava a poucos metros de distância. "Espero estar fazendo a coisa certa", pensou.
Henry não era só um homem que vivia cansado, mas que também frequentemente se irritava com seus próprios pensamentos e decisões, o que era estranho, pois quando jovem, ele tinha uma incrível habilidade de harmonizar seus pensamentos. Logo, essa sua característica não havia se esvaído dele durante o sono de momentos atrás. Talvez ela fosse necessária ainda.
Na entrada do parque, Henry parou mais uma vez. Um vento gélido, porém fraco, começou a soprar. Possivelmente o sinal de que iria começar a chover. "Sinto cheiro de chuva", pensou ele. A emoção de antes, de repente voltou. Uma mulher atraente estava se dirigindo à saída do parque em que Henry se preparava para entrar. Dali onde estava, Henry podia ver um cachorro correndo atrás de um gato. No entando, a sua visão foi interrompida naquele momento.
-- Adivinha quem é? -- mãos macias e graciosas tamparam sua visão, e uma voz feminina soou no ar.
-- Droga...-- disse Henry -- você me deu um susto, Celina!
-- Ha, ha, ha! Você se assusta fácil! -- disse ela, virando-se para ficar de frente com Henry. -- Oi! -- deu-lhe um beijo no rosto. No exato momento, a mulher atraente que estava saindo do parque passou por eles. Lançou um olhar para Henry. Um olhar frio e misterioso. Logo depois seguiu caminhando rapidamente pela rua.
-- Aquela moça... -- ia dizendo Henry, mas logo parou, voltando a atenção para Celina -- E então, como vai a vida, minha cara Celina? O que faz por aqui?
Celina era uma bela mulher que devia ter por volta de 30 anos de idade e trabalhava junto com Henry num escritório de uma empresa. Ela tinha longos cabelos negros e lisos, e olhos castanho-claros. Assim como Henry, não era casada, e oportunidades não lhe faltaram também.
-- Eu, na verdade, não estou muito bem. Só quis dar um passeio pelos arredores, afinal moro perto daqui. Pensei em visitá-lo, mas o encontrei aqui. O que você tem? Pela sua cara, você deve estar pior do que eu. -- disse ela, olhando para Henry com uma feição bastante preocupada. -- Qual o problema, Henry?
Henry estava realmente estranho em sua aparência. Seus olhos estavam vermelhos e com olheiras, sua feição um tanto abatida e sua voz estava meio rouca. Aparentemente estava cansado, mas, particularmente, não estava.
-- O quê? Como assim? Eu estou muito bem. Pra dizer a verdade, tão bem como nunca estive! Pode acreditar! -- um singelo sorriso apareceu nos lábios de Henry.
Celina ficou observando-o por um tempo, com uma certa atenção. Depois virou-se e seguiu na direção da entrada do parque.
-- Vamos entrar então. -- disse ela, olhando para ele, sorrindo. Henry correu para alcançá-la e logo estava caminhando ao lado dela, através do parque.
-- Diga-me... -- dizia ele -- por quê você não estábem? Ao contrário de mim, você não aparenta estar mal.
Celina continuou caminhando ao lado dele, olhando a natureza ao seu redor, sem dar atenção às suas palavras. De repente, a visão da mulher deparou-se com uma figura incomum ali no parque. Um homem distinto de longos cabelos ruivos estava acariciando as cabeças do cachorro e do gato que antes corriam um atrás do outro, e, de súbito, cão e gato trocaram olhares e saíram correndo como dois grandes amigos, lado a lado. Mas, na verdade, o que era mesmo incomum era o fato... do homem parecer estar flutuando!
-- Henry... -- chamou ela -- olhe aquilo! -- disse ela apontando para o homem de longos cabelos ruivos.
Definitivamente, ele estava flutuando. Seus pés, descalços, estavam nitidamente fora do chão. O sobretudo branco que usava parecia estar levantado pelo ar, como se fosse uma capa.
-- O... o quê...? -- disse Henry, olhando para quela fugura meio transtornado. Foi, então, se aproximando do homem com uma cara de desentendido. Celina ia atrás dele. O homem de cabelos ruivos, porém, parecia estar se distanciando.
Silêncio.
Um clarão.
Silêncio continua. Os dois meio cegos por conta do clarão, e, por fim, uma voz alta e grave bradou:
"Uma sorte inesperada veio ao encontro de vocês hoje! Não se distraiam com nada! Estão, a partir de agora, no Prelúdio."

Fim do Prólogo.